terça-feira, 9 de outubro de 2012

La foule

(Ao som de Ney Matogrosso)

A escuridão sempre me encantou. O mistério, a dúvida, a incerteza. A névoa, a confusão, a tempestade... Os amores mais complicados, as pessoas mais perturbadas. Os cruzamentos, as encruzilhadas... Os relâmpagos em meio a madrugada. A vela quase apagada. O cigarro mais fraco com a fumaça mais dispersa. A cerveja gelada no inverno... O outono com suas folhas espalhadas no mato quase gelado. As melodias mais misturadas. As guitarras mais barulhentas. O grito. O olhar arregalado. As atitudes mais desesperadas. O choro mais envergonhado. O riso mais mascarado... A angústia, o medo. Me encantam, e me espantam...
Talvez seja mais fácil se encontrar em meio ao negro céu, onde as luzes ofuscadas de tanto temor e ansiedade quase desaparecem, onde o breu prevalece. Talvez...
Talvez seja menos complicado enxergar com mais clareza quando se está levemente embriagado... A vida passa a ter mais sentido.
Se é que existe sentido.
Nascemos já predestinados a entender as leis, as teorias, os deveres... E alguém se lembrou de perguntar se eu realmente queria?
Acho que eu não queria nada... Nada. Nada.
Na-da.
Se é que existe sentido em não querer nada.