sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

oitenta e oito

E novamente eu estava lá, eu e ele
mais eu do que ele - costumeiro
Olhava a fundo nos olhos, amedrontados
destemperados,
Eu não o sentia mais

O deserto de nossas almas estava ainda mais deserto

Filmes, músicas e poesias
Um gole, um trago, um beijo
Um riso, um olhar, o medo
O abraço

Mãos enlaçadas no finito
E o finito esteve por vir. E veio
e rápido
e ávido
Malas por fazer

deixe-me ir, deixe-me
Não, por favor, não deixe
não deixe deixe me

Só mais um dia, e prometo partir,
de vez. Insensatez?
vez
Eu não o sentia mais,
já meus olhos não me deixam.





sábado, 10 de novembro de 2012

Âmbar

Um samba
no canto do sorriso decidido
Pés deslizam, nús, no lamear de terras
que laranjas colorem os tecidos

Indo ao norte da certeza que liberta, que canta
E o seu cantar soa bem, tão bem, aos ouvidos

Sinos e melodias
Toques e retoques

Onde há espaço: andar
Andar, calmamente
para lá e para cá
para ali e para aqui

O mistério cativo me chama para a dança
envolve seus braços em meu corpo, e balança
O vento sopra confiante a cada fio de cabelo destemido
a pele congela
os olhos se vidram, brilhantes
delicados

Pés sem atrito
Tecido colorido

Folhas sussurrando
pássaros conversando
A água se deixando levar
Leve...
âmbar.







segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cadência

Saboreia, amor
Saboreia

Engole a seco o doce gosto do sangue preso ao talo da garganta
chafurdado no mais imundo borbulhar de almas
Impetulantes

Cuspa, incrédulo ser
Cuspa

Sem qualquer receio ao peito do amado tempo
que te carrega a vida sem nem pedir licença
E apenas leva...  E longe, aos tropeços

De olhos fechados
Saboreia, amor: A Dor.

domingo, 4 de novembro de 2012

Querela

Todo dia tem alegoria
Vem ser você na nossa fantasia

Que bem lhe faria?

Fotografia

Sorriem com gestos e vozes
O mundo deixa sua fantasia de planeta cair
Só pra dançar nú às custas dos olhares sonoros dos dois 

Servir café quente sem queimar
Atraente é saber
Amar, de va gar

Salivam
Saúdam
Se amam
Se grudam

Todo dente exposto é filho univitelino da tristeza

É no pé da relação
Suor liso
Depilação
Que o papo de umbigos é posto em lençóis
Pescoços compridos, comprimidos são sementes de girassóis

Ombros feito pedra
Coxa com canela
Tinta cai da tela
Corpo se escorrega
Escorre pelo chão
Varanda sem janela
Parede não congela
Sequela,
Amor,
Perdão.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

La foule

(Ao som de Ney Matogrosso)

A escuridão sempre me encantou. O mistério, a dúvida, a incerteza. A névoa, a confusão, a tempestade... Os amores mais complicados, as pessoas mais perturbadas. Os cruzamentos, as encruzilhadas... Os relâmpagos em meio a madrugada. A vela quase apagada. O cigarro mais fraco com a fumaça mais dispersa. A cerveja gelada no inverno... O outono com suas folhas espalhadas no mato quase gelado. As melodias mais misturadas. As guitarras mais barulhentas. O grito. O olhar arregalado. As atitudes mais desesperadas. O choro mais envergonhado. O riso mais mascarado... A angústia, o medo. Me encantam, e me espantam...
Talvez seja mais fácil se encontrar em meio ao negro céu, onde as luzes ofuscadas de tanto temor e ansiedade quase desaparecem, onde o breu prevalece. Talvez...
Talvez seja menos complicado enxergar com mais clareza quando se está levemente embriagado... A vida passa a ter mais sentido.
Se é que existe sentido.
Nascemos já predestinados a entender as leis, as teorias, os deveres... E alguém se lembrou de perguntar se eu realmente queria?
Acho que eu não queria nada... Nada. Nada.
Na-da.
Se é que existe sentido em não querer nada.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Nocturne

Um cinza  úmido avermelhado aquece meus olhos que estagnados a sua espera não desviam a atenção da porta, imaginando que a qualquer momento possa girar essa esfera e me aquecer em seus braços. Uma, duas horas se passam e eu aqui imaginando, sonhando. Crio fantasias para passar o tempo, invento situações em que nos amamos e esquecemos dos trilhos do metro lá fora...
E as velas continuam a se derreter a sua espera...
Pego outra taça de vinho, chacoalho, sinto o cheiro amargo do tabaco. Vinho sul africano, o seu preferido. Deslizo a mão sobre minha perna coberta de setin perolado, o seu preferido. Ando até a janela, olho, e mesmo assim não consigo te trazer mais depressa...
E as velas continuam a se derreter a sua espera...
Ascendo um cigarro, trago ansiosa. Segundo, terceiro... Quarto... Outra taça de vinho, repito o mesmo ritual. Chacoalho. Sinto o cheiro. Lembro. Sorrio de canto.
E as velas continuam a se derreter a sua espera...
Viro o disco pela terceira vez, Claude Debussy, seu preferido. Respingo novamente as gotas de rosas em meu pescoço. Sento... Confiro suas ligações inexistentes. Meus olhos se voltam à porta...
E as velas continuam derretendo a sua espera...

sábado, 18 de agosto de 2012

Tormenta

(Ao som de Led Zeppelin)

Sinto frio. Hoje o sol escaldante queima o asfalto lá fora, mas tudo que consigo sentir é frio. Frio e um desconforto no lado esquerdo do peito. Pensei em infarto, mas não. Há pouco meus exames indicavam a perfeita condição de minha saúde. De súbito lembrei que poderia ser meu coração suplicando incansavelmente por qualquer afago, qualquer que seja, mas de preferência algum estonteante, fadado a preencher esse vazio que predomina a minha alma. Tantos livros, tantos risos, tantos dias de sol. Tudo destinado a intensa e supérfula felicidade... Mas há um buraco profundo, tão profundo, que nada consegue alcança-lo. Nem mesmo meus discos e meu fumo conseguem supri-lo, e nesse momento meus ouvidos escutam "In my time of dying". Parece poético, você deve estar pensando em poesia. Mas não... O som dessa guitarra me deixa inquieta, com desejo de abrir o zíper que me fecha em minha alma. Sair do casulo, como uma borboleta... Sinto que estou pronta, ou apenas almejo isso: querer voar. Mas faz frio lá fora...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Agosto

(Ao som de Astor Piazzolla, Libertango)

Tô leve, tô livre, tô solta. Tô indo... Tô indo porque preciso ir, entende? Não sei bem ao certo o que sinto, mas é como se o vento me empurrasse, me guiasse. Como se somente nesse momento eu soubesse o que é realmente melhor pra mim. E agora o melhor é ir. Meus olhos estão abertos, brilhando, minha mente sóbria, meus dedos sem o cheiro forte do fumo... Abandonei tudo o que me deixava para trás... Inclusive você. Bem, agradeço de certa forma o que fez por mim. Bom, de certa forma acho que não agradeço merda alguma. Ou melhor, digo mais. Melhor não dizer... Pois bem, preciso ir. Quero sentir o cheiro áspero do perfume de outra vida, olhar com meus novos olhos as flores, os pássaros, os galhos .. Andar por aí, observar a luz do fim do dia sobre as folhas das árvores. Parece poético, sim? Dançar, para variar, amor. Conhecer alguém que me liberte, que me deseje, que consiga me fazer voar, e desvendar, e imaginar, e libertar, e amar, e sentir. Eu preciso sentir. Tô livre, tô solta... Tô indo...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Transparecer da Alma


 (Ao Som de Breathe_Pink Floyd.)

As leves, sutis, imperceptíveis
Calmas e aconchegantes vibrações
Transferidas de uma forma incrível,
Transformando a maravilhosa criação psicodélica
Em som, vontades inebriantes invadindo os orifícios
Laterais da dura cerviz.
E quando as guitarras vibram em sua mente,
 E a única coisa que você quer é gozar,
Mas na verdade você só pode fazer isso
Gozar desse momento,
Aproveitar cada instante e só, mais nada
é importante, só você e seus pensamentos,
suas pessoas, seus amigos, sua família,
seus amores...
seu amor.

L.H.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

29 vezes

(Ao som de Koko Taylor)

Olha, confesso que sinto, sinto sim, algo muito forte que nem mesmo consigo definir. Um sentimento que nunca antes senti, intenso, um grito no infinito, grandioso, farto. Olha,  revelo que não consigo mais esperar, já esperei tempo demais, meu peito não consegue mais se guardar, quer abrir as portas. Sei que não é fácil, você vai dizer que não é tão simples assim,  barreiras existem e blábláblá - essas tolices que costuma dizer -, mas de que adianta todo esse sentimento se não posso liberta-lo? Queria dizer que te quero, te quero muito, mas  não consigo mais aguardar, quero me entregar, mesmo que para outro alguém. Talvez um dia possamos nos encontrar, em um futuro qualquer nossas vidas voltarão a se cruzar, quem sabe poderemos... Apenas transar. Sexo, apenas, entende? Em uma esquina qualquer, com o latido dos cães que estarão rondando, perdidos, atrás de coisa qualquer, e o cheiro quente do verão, ou quem sabe no outono com as folhas caindo sobre nossos corpos nus, suados. Quem sabe... É... Amor! Amor... Amor? Pode ser que tudo seja amor, pode ser que seja invenção. Quero acreditar. Olha, mas agora estou indo, não de corpo, porém de alma. Não pense que desisti, só quero me estourar em outro alguém, como fogos de artifício. Não me peça para esperar, quero tentar felicidade, sei lá... Só preciso me encontrar em outro olhar, e isso não será difícil... Tenho andado bem.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Bom mom

Traz a Lua, crua
Sem enfeites, com ternura
Traz a Lua
junto ao teu riso,
traz. Veremos daqui
a Lua lá a brilhar

Banharei-o de inacabáveis
sensações. Doarei meu céu,
doarei...

Desatina minha alma
com seu infindável veneno
Belo moço, suplico por seu toque
deslizando, quente, por minha pele
Meus olhos imploram por tua boca.. Vem...

Traz a Lua, nua







terça-feira, 24 de julho de 2012

Vermelho fogo

(Ao som de Caetano Veloso, Nu com a minha música)

Menininha, seu sorriso incendeia
traz paz...
Bela rainha
Perto de ti me sinto vivo
como o amanhecer depois do negro tormento
... atrevido
Resgata-me, puxa-me para seu abismo
cheio de volúpia
Caricia meus lábios em teus
Sufoca-me com seu cheiro,
quente, fadado a enlouquecer
... admiro
Funde nossos corpos,
com desejo, proíbidos
... seduzido
Meus olhos a buscam... Em todo outono, em qualquer canto... Espiono. Necessito encontrar-te. Novamente... Cura essa angústia... Com um beijo, úmido, tão temido por ti... Tão desejado por mim...
Volta, depressa...Vem
Em seus braços quero relaxar... Em apenas um toque me expressar
E dizer no mesmo momento: que te amo, sem medida. Como a ventania em um moinho...
Intensa, atormenta
Volta, depressa... Vem.





segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sopro

Suavemente meus pés tocam o chão,
leve feito uma pena que voa.
Voa conforme o vento, se deixa levar
Gira, roda, encosta, solta
Gira, voa... Viva.
Ressalta a paz interior
libertando toda dor, com muito amor,
com perdão...
Gira, roda, encosta, solta
Gira, voa... Vida.
Sem controle do momento
entrego-me sem medo, com muito amor,
com compaixão...
Gira, roda, encosta, solta
Gira, voa... Voa... Sem direção..

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Roda Viva

Engraçada essa sensação que te deixa leve, que faz o mundo parecer ser só seu... O impossível passa a ser mais plausível, é engraçado. Conforta. Sei lá. É engraçado pensar que há uns dias eu buscava explicação para tudo que acontecia, é engraçado. Estranho é aceitar que nem tudo que acontece tem realmente um motivo, às vezes é só coincidência, às vezes não. Já não me preocupo se eu não sei porquê. Gosto do estrago, do mistério, da dúvida. Te desvendar, imaginar nós. É engraçado. Conhecer-me, entende? Ninguém nunca vai saber quem eu sou por completo, eu mudo, mudo a cada dia, a cada hora. Cada momento sou um eu diferente, que nem mesmo sei, me surpreendo. É engraçado. E talvez, o que estou dizendo agora não faça mais sentido daqui algumas horas. É engraçado.

domingo, 17 de junho de 2012

Andrea Doria

Eu sei é tudo sem sentido, quero ter alguém com quem conversar. Alguém que depois não use o que eu disse contra mim... Nada mais vai me ferir, é que eu já me acostumei com a estrada errada que segui e com a minha própria lei. Tenho o que ficou, e tenho sorte até demais, como sei que tens também...

Acho que essa música nunca fez tanto sentido para mim quanto agora...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Fluxo

Lembranças que não se encaixam no futuro.  Sonho, talvez. Concordo com a ilusão. Sinto saudades do que não vivi, do que não senti, do que não sofri. Passado-presente. Um ciclo. Como uma montanha russa, uma hora intensa outra monótona, mas nunca igual. Dependente do estado de espírito, se feliz, ótimo, se triste, saiam de perto. É drama na certa. Um pedaço do coração que não é preenchido com fé ou coisa alguma, é apenas um vazio. Que tento preencher. Mas nunca transborda. Nunca se completa - não que eu sinta falta, mas incomoda. Lembranças falsas de um passado inexistente. Vago, incerto. Logo amanhece, e tudo volta ao normal... A rotina de nuvens inconstantes cobrindo a luz. Cobrindo minha verdade absoluta, ou talvez obscura.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Desabafo

Dizem que as melhores canções vem dos piores sentimentos. Como eu queria ser como aquela pessoa tapada, que finge ser cega a todos os problemas, que não ocupa uma posição. Ah, como eu queria não me preocupar com os problemas dos outros, olhar só a mim. Não me importar. Como eu queria! Pois isso acontece exatamente comigo, vivo cercada de pessoas egoístas, mas talvez eu enxergue-as desse modo devido a minha expectativa, devido ao meu modo de enxergar as situações, e talvez.. O talvez nem sempre é uma dúvida. O problema deve estar comigo.. Quem sabe eu sou uma pessoa ruim e me enxergo como uma pessoa boa. Boa a ponto de engolir certos insultos, apenas para preservar o afeto. Boa a ponto de não guardar rancor - se é que isso é bondade -, e acabar me decepcionando novamente, com as mesmas pessoas, nas mesmas circunstâncias. Alguns chamariam de covardia. Pode ser. E de tanta covardia nasceu o comodismo, prevaleceu a insegurança. E o lado frio de demonstrar afeto se transmite na tolerância, que acaba sendo calorosa. Tudo ao contrário. Fora do eixo. E talvez seja por isso que sempre busco a afeição dos outros. Um dos meus maiores desejos é possuir uma voz paralela que dissesse tudo o que não consigo dizer. Que tirasse essa rolha que tapa a voz da minha alma. E que fizesse aceitar-me como realmente sou. Sem culpa ou coisa alguma. O talvez nem sempre é eterno... E as canções sejam marcos de uma fase, e não de uma personalidade.